Texto e fotos: Bruno Bocchini
Um grande cavalo de madeira usado pelos gregos durante a Guerra de Troia para a conquista da cidade, cujas ruínas estão hoje em terras turcas, funcionava como boa estratégia para dominar o inimigo. À noite, guerreiros saíam do cavalo, dominavam as sentinelas e possibilitavam a entrada do exército grego no território. O cavalo é considerado uma criação lendária, mas pode ter sido uma máquina de guerra verdadeira transfigurada pela fantasia dos cronistas. Basta somar a força de 420 cavalos gregos e um pouco de imaginação para transportar um período da mitologia ao cotidiano de qualquer um de nós (ou melhor, de alguns endinheirados). O Audi S7 Sportback, irmão encorpado do A7, reúne características mitológicas sob um vigor tradicional alemão.
Car Stereo levou o modelo para rodar em estradas de terra e, claro, na pista. A ideia era comparar como o Audi se comporta em diferentes exigências e, sobretudo, como o motor V8 biturbo suporta a pressão do dia a dia nas ruas brasileiras.
À primeira vista é difícil diferenciar o S7 do A7, mas no esportivo os retrovisores têm capas de alumínio – no A7 eles são da cor da carroceria-, e também a inscrição “V8T”, na lateral dos para-lamas dianteiros – já ajuda distinguir o parentesco. O A7 conta com motor V6, mas essa diferença com o bloco V8 do S7 só é possível sentir dentro da cabine.
No interior, volante, bancos e na soleira das portas há o emblema “S7” gravado. A cabine é luxuosa e conta com acabamento de couro e alumínio escovado, talvez o único detalhe que destoa do conjunto está no acabamento interno das portas – ao abrir uma das portas dianteiras, por exemplo, o plástico que envolve a estrutura não combina com o requinte apresentado no interior do carro.
O S7 tem quase 5 metros de comprimento e pesa 1945 kg, diante dessa mistura entre cupê e sedã, vence o espaço interno. Quem viaja atrás tem disponível quase 1 metro na altura e 1,50 metro na largura para se acomodar (mas o espaço traseiro tem apenas dois assentos).
O tratamento acústico da cabine é um dos pontos fortes. O isolamento de motor e transmissão é eficiente e o ruído aerodinâmico é baixo. Sobra ouvir a rodagem dos pneus – uma vez que, nessas condições, o som fica mais evidente.
Diante do conforto, o sistema de som Bose merece destaque porque oferece 14 alto-falantes surround, um alto-falante central, um subwoofer e um amplificador de 12 canais com mais de 600 watts de potência total. Qualquer passageiro se sente envolvido pelo sistema de entretenimento que ainda pode ler DVDs ou se conectar via Bluetooth. Há também um receptor de sinal para TV.
O motor 4.0 TFSI trabalha com o sistema de corte dos cilindros para economizar combustível. O COD (Cylinder On Demand) cruza diversas informações do funcionamento do carro, como velocidade e carga, e desativa metade dos cilindros do motor, caso o trabalho deles não seja necessário. Entre 900 e 3 500 rpm, o sistema fecha as válvulas de admissão e escape e corta a ignição e a injeção de quatro cilindros, para voltar a ativá-los a qualquer momento sem que o motorista perceba as mudanças. Nas medições de consumo, verificamos que o COD tem maior oportunidade de contribuir nas estradas que na cidade, quando há maior variação de condições que exigem mais do motor.
Na pista, o S7 levou apenas 4,4 segundos para atingir o 0 a 100 km/h. Quem favorece a “diversão” é o V8 biturbo que gera 420 cv de potência e 56,1 mkgf de torque, além da transmissão automatizada de dupla embreagem e sete marchas. Ao realizar curvas mais intensas com o “pé embaixo”, o S7 não perde força e se mantém firme no traçado, já em linha reta, acima dos 135 km/h, o esportivo ensaia uma saída de frente, mas a vontade é logo contornada pelo sistema de tração integral Quattro.
Na média, o rendimento do S7 ficou no mesmo patamar de sedãs esportivos como o BMW M5. O Audi conseguiu as marcas de 6,4 km/l na cidade e 9,3 km/l na estrada.
Ao colocar o Audi S7 Sportback em trechos de terra, os sistemas de direção (elétrico) e de suspensão (pneumático), se adaptam com facilidade. A alteração de temperamento é sensível. Há mudança de peso do volante que apresenta reações mais diretas da direção, e endurecimento da suspensão, quando o carro é pilotado em velocidades maiores. Nos pisos irregulares, a suspensão consegue ser mais macia e em baixas velocidades, a direção fica leve e indireta. É possível enfrentar buracos, mesmo com os pneus de perfil baixo e rodas aro 19.
O motorista comum, que não tem uma pista à disposição, também pode experimentar as várias características do carro selecionando o modo de atuação de cada sistema (como fizemos em nosso teste). A tela multimídia localizada no alto do console dá acesso ao Audi Drive Select e permite a escolha de quatro programas (Comfort, Automatic, Dynamic e Individual), que permitem ajustar as respostas do carro sob quatro aspectos (Motor/câmbio, Suspensão, Direção e Som do motor) – sendo que no mapa Individual é possível misturar os diferentes modos.
Além da suspensão, da direção e do sistema Audi Drive Select, o S7 conta com teto solar e porta-malas elétrico (com ajuste do grau de abertura). Nos pacotes de equipamentos disponíveis existe ainda: piloto automático adaptativo, sistema preventivo em caso de colisão iminente (Audi Pre Sense) e auxílio para troca de faixa por meio de detecção de pontos cegos (Audi SideAssist), entre outros. No fundo, o S7 é um A7 com ainda mais desempenho, luxo e equipamentos, que permite ao motorista dirigir com mais esportividade, mas também com mais conforto.
O S7 tem preço inicial de R$ 500.000 e, completo (como este testado por Car Stereo), sai por R$ 551.500 – para guardar um semideus na sua garagem, nada que uma boa conta bancária não resolva.