Texto e fotos: Bruno Bocchini
De surfistas mais nostálgicos aos jovens que carregam prancha debaixo do braço só para “fazer tipo”. De Kombi, Rural, L200 Triton Savana ao cross up! Além de checar as condições do tempo, passar parafina (na prancha e/ou no cabelo) e vestir a roupa certa, todo surfista sabe que o mais importante é chegar à praia. Alguns automóveis se destacaram ao longo dos anos por serem os preferidos dos surfistas. Fatores como espaço interno, resistência, potência e estilo fizeram com que determinados veículos caíssem no gosto popular, assim como aparições em filmes e revistas. Você deve estar pensando que a versão “aventureira” do up! não soma essas características, mas basta olhar para o desenho da carroceria, moderno, os bancos em couro sintético e o rack de teto para, quem sabe, não surgir aquela vontade de pegar uma onda.
Até pouco tempo, as montadoras decidiam moldar modelos aventureiros rentáveis com uma receita básica: aproveitar um carro que vendia bem, ou precisava de um impulso no mercado, adicionava plásticos na carroceria, alterava a suspensão, aplicava pneus mistos e, claro, se apegava aos “mimos” off-road, ainda que discretos. A Volkswagen fez exatamente isso com o CrossFox e Gol Rallye, sendo que o último apareceu com câmbio e motor exclusivos.
No caso do cross up! há alguns incômodos: os itens de série se restringem a direção assistida eletricamente, travas, retrovisores e vidros dianteiros elétricos, e pouquíssimos “mimos” como as rodas de liga-leve de 15 polegadas, sensor de ré e faróis de neblina. Ar-condicionado e rádio são opcionais e custam, respectivamente, R$ 3.160 e R$ 865. Custando R$ 40.790 com câmbio manual e R$ 43.840 com transmissão automatizada, o cross up! ainda pode ganhar um GPS ao custo de R$ 1.250. Essa “brincadeira de equipar” pode tornar a versão avaliada por Car Stereo perto dos R$ 50 mil. O valor supera modelos como o HB20 automático, que tem motor 1.6 e transmissão mais suave do que a automatizada.
Mínimos com falta de “mimos”
Sabe quando você encara pisos escorregadios e então é necessário sair de segunda marcha? Com o cross up! não vale a tentativa. A calibragem da embreagem da transmissão automatizada dificulta esse tipo de manobra. A famosa I-Motion requer aquele velho cuidado: o motorista precisa entender o carro para, ao perceber que haverá troca de marcha, aliviar um pouco o pé para evitar o “tranquinho” inconveniente. Por esse motivo, pela falta de costume, muitos motoristas acabam preferindo a versão manual. Fato é que a mecânica apresentada pela Volkswagen para os modelos da família up! é bem ajeitada e o motor 1.0 de três cilindros fala alto. Optar pelo modo sequencial é a saída para qualquer problema, sobretudo se você for encarar uma subida – se deixar o cross up! no modo automatizado ele irá “gritar” até passar de marcha, por isso o ideal é controlar, por exemplo, para uma segunda marcha. Fora isso, se adaptando ao modelo, o cross up! tem o mesmo instinto dos outros irmãos (vale lembrar que Car Stereo já testou o modelo up! com transmissão manual na edição #177 e, inclusive, apresentou teste completo do sistema de som).
O compacto continua gostoso de guiar (com o câmbio no modo sequencial), encarando curvas com a disposição de modelos maiores. O consumo se manteve baixíssimo, com média de 14 km/l com etanol na cidade e o ar-condicionado ligado. O carro tem carroceria bem construída e se torna prático para o dia a dia de quem precisa se deslocar pelo trânsito pesado das capitais. Os pneus 185/60 R15 possuem perfil baixo, mas não ajudam a suspensão mais dura, e reforçam a vocação do carro, que é rodar no asfalto liso – para uma “etiqueta” aventureira, ponto, no mínimo, esquisito.
A versão de teste já veio equipada com o sistema de “infotainment” chamado de Maps & More. Embora ele concentre uma série de dados relevantes quanto ao desempenho do carro, o sistema de navegação, certamente, não é dos melhores. A simples tarefa de introduzir algum destino já requer tempo e paciência do motorista. É preciso preencher desde o país até o número do endereço. O problema é que essas informações deve ser acessadas por meio de abas que evidenciam a sensibilidade ruim do touchscreen. A eliminação de letras conforme a inserção do endereço (comum em outros navegadores) também desempenha outro obstáculo. Não é difícil o usuário ficar confuso pela falta de uma opção real de letra, correspondente ao nome de uma rua, que o sistema eliminou. Por outro lado, o sistema de som possui bons balanços e mantém linear a distribuição de áudio para todos os ocupantes. Assim como o câmbio automatizado, lidar com a central multimídia é uma questão de costume.
As mudanças sofridas pelo up! para se tornar cross são estéticas. Ele recebeu racks no teto, estruturas de plástico preto nas caixas de roda, apliques com efeito cromado na região central do para-choque dianteiro e traseiro. Portanto, se você não prioriza um veículo com esse visual, vale mais a pena investir no high up!, que custa R$ 1.250 a menos. Com esse valor, é possível comprar um sistema multimídia para o hatch compacto. O up! seria uma compra racional e o cross emocional. Se você for um surfista iniciante e prefere estilo, o cross será sua cara. Agora, se seu ‘status’ for “Big rider”, o pequeno VW deixará você na marola.
Volkswagen cross up! I-Motion
Preço: a partir de R$ 43.840
Vale: Estilo, bancos sintéticos, direção elétrica, motor e sistema de som;
Não vale: Preço (sobretudo se for bem equipado com os opcionais), câmbio, GPS.